Nascido em 27 de setembro de 1911, em Santa Cruz do Capibaribe, filho do Senhor José Francelino Aragão e da Senhora Raimunda Maria Aragão, Raymundo foi um líder político nato, um administrador público mais próximo do sentido cientifico da palavra, que este município já teve. Logo cedo ele se descobriu com liderança política, começando sua militância em defesa da emancipação política administrativa da então vila de Santa Cruz do Capibaribe, na época pertencente ao município de Taquaritinga do Norte, com um diferencial que devo registrar, não tratou a questão com fins eleitorais e dividendo político pessoal ou de grupo, como ainda hoje muito se pratica nos eventos emancipatórios por este Brasil a fora. Abraçou esta luta por compreender que Santa Cruz do Capibaribe tinha condição política, geográfica, econômica e social para não mais ficar a depender de Taquaritinga do Norte e com esta visão liderou o movimento emancipatório, enfrentando obstáculos dos mais variados em nível de distrito, município, região e na capital pernambucana [Recife], pois suas idéias iam de encontro aos interesses “políticos” e pessoais daqueles que eram taxativamente contra a libertação de Santa Cruz. Mas, como diz o ditado popular “Água mole, pedra dura, tanto bate até que fura”.
E em 29 de dezembro de 1953, Raymundo e seus companheiros, conquistavam com muito suor e luta a emancipação (independência) de Santa Cruz do Capibaribe distrito de Taquaritinga do Norte. Santa Cruz do Capibaribe tornava-se o mais novo município do Estado de Pernambuco através da lei 1.818 sancionada e promulgada pelo Governador Sr. Etelvino Lins de Albuquerque.
Aquele que foi o precursor e o maior baluarte desta grata batalha, tornava-se mais tarde Prefeito de Santa Cruz do Capibaribe, eleito pelo voto do povo do recém-criado município por dois mandatos, de 1955 a 1959, concorrendo com o ex. prefeito nomeado interinamente, tenente Teófanes Ferraz Torres, sendo sucedido pelo Sr. Pedro Neves [1959 a 1963], reelegendo-se Prefeito em 1963 por mais quatro anos [63/69], tendo o seu Vice Prefeito o Sr. Jose Neco também eleito através do voto. Fazendo uma gestão administrativa com responsabilidade pública e com
ações relevantes para a época e os dias atuais, dentro de uma perspectiva de grandeza para o futuro da então cidade criança, menina, moça, que no decorrer de sua História tornou-se um dos maiores polos de confecções do País e América Latina.
Na época, quando Prefeito apesar de não ter formação acadêmica, considerando-se ainda a ausência de instrumentos conceituais administrativo, econômicos, sócio ambientais, jurídicos, tecnológicos, planejamento estratégico etc, elementos indispensáveis às gestões atuais. Portanto Raimundo pensou, sonhou e executou ações de forma planejada, construindo e calçando ruas largas(Rua Grande e do Pátio) e avenidas [29 de Dezembro e Bela Vista], um cemitério [S. Judas Tadeu] que serviria para a época e gerações futuras. Para servir como espaço físico da sede da Prefeitura construiu o prédio onde hoje funciona a Escola Padre Zuzinha, na Avenida 29 de dezembro, com uma infraestrutura dotada para acolher a todos os aparelhos administrativos: municipal (Gabinete do prefeito, Secretários etc.), e a Câmara de Vereadores, estrutura que a época e ainda hoje não se vê nos municípios do nosso agreste com exceção de Caruaru.
Quando hoje o mote é fomentar o desenvolvimento econômico local, com vista ao seu fortalecimento, face ao mundo globalizado (Modo de Produção Capitalista), Raimundo trazia para Santa Cruz do Capibaribe o Banco do Brasil visando o investimento na produção local e de cidades vizinhas, através de linhas de créditos e tantos outros mecanismos que diz respeito ao papel do agente financeiro e social do nosso Banco Público Nacional (B.B). A feira de confecções com milhares de bancas no centro da cidade e Parque de Feiras Moda Center nem em sonho, mais ele, que muito bem pensava, construiu uma escola técnica de corte e costura, diversificando a economia base daquele tempo, a lavoura temporária e a criação de animais, assim estabelecendo-se uma “linha do tempo”, onde hoje Santa Cruz do Capibaribe tornou-se um dos maiores polo de confecções do país, gerando emprego e renda aqui dentro e mundo a fora. Como o recém-criado município sobreviveria sem reservatórios para o armazenamento de agua, elemento indispensável à vida e ao desenvolvimento econômico. Raimundo não pestanejou conquistando a construção dos açudes de Machados, Manhosa e Pedra da Nega, obras de
grandeza, sobretudo para a época. A cultura pré-histórica das pessoas caçarem e abater animais para comer a sua carne e utilizar-se do seu couro, ossos etc, para suprir suas necessidades, mais tarde tornando-se uma atividade comercial, atividade esta no município, que ganha seu espaço físico, quando Raimundo construiu o primeiro e único açougue Público Municipal, na Rua Dr.José Mariano (antiga Rua do Pátio).
A política milenar de tributar através de impostos os cidadãos, com forma de juntar dinheiro para manutenção e execução das políticas do Reino e do Estado [nem sempre bem aplicados]. Raimundo para atender a esta necessidade do ente Estadual, construiu a Coletoria, órgão da Secretaria de Fazenda do Estado, na antiga Rua Dr. José Mariano, hoje rua que leva o seu nome. Onde hoje funciona a Coordenadoria da Mulher ao lado da Secretaria Municipal de Defesa Social, ele ergue a sede do conceituado Instituto Brasileiro Geográfico e Estático (I B GE).
Hoje os conceitos de políticas públicas sociais são avançados e indispensáveis para a compreensão social e execução de politicas públicas com vista à diminuição do fosso existente entre ricos e pobres; produto da miséria humana, do modo de produção capitalista, conceitos estes imagináveis naquela época, Raimundo construía a primeira Unidade de Saúde Pública Municipal, denominada de Maternidade Antônio Burgos, na Avenida 29 de Dezembro, onde hoje funciona o Hospital Público Municipal o qual tem a honra de levar o seu nome. Não é preciso ir muito longe para saber que a universalização da educação, ou seja, educação para todos e qualidade é algo que está sendo abordado em todas as esferas de governo e sociedade civil organizada, muito longe da pratica obviamente, mais com significativos avanços. Pois bem, Raimundo já praticava a hoje denominada “educação para todos”. Construindo diversas unidades escolares, com um olhar, sobretudo para os que tinham maiores dificuldades ao acesso a educação, as comunidades da zona rural.
Nem por meio de vidência, adivinhação, etc. tinha-se noção dos princípios da Administração Pública, a saber: Legalidade, Ética, Moralidade, Impessoalidade, Publicidade, Economicidade, Eficiência, Razoabilidadee Planejamento. Mas Raimundo já os praticava em seus dois mandatos, pois seus atos administrativos pautavam-se na lei (principio da
legalidade), suas ações tinha a responsabilidade pública (Ética e Moral), ao construir, ao contratar a prestação de serviços para a Prefeitura, tinha como prática, executar pelo melhor preço e qualidade (economicidade e eficiência) ainda hoje muitas de suas obras estão ai pra quem quiser ver, não se deterioram com o tempo, a chuva e sol, ou seja, não eram construção “sorrisal” nem tão pouco superfaturadas.
Se os princípios da administração pública inexistiam a época, muito menos a Lei Complementar de Responsabilidade Fiscal (LRF), mas ele só gastava o que tinha pra gastar, se planejava, e pagava o serviço executado. Na Prefeitura não construiu fortuna para si, para seus filhos, parentes, grupo políticos ou amigos (correligionários), basta ver como entrou e como saiu do cargo de Prefeito. Atitude esta que é de uma grandeza imensurável, face ao tratamento que se tem com o dinheiro público (do povo) Brasil a fora. Desta forma a impessoalidade e responsabilidade fiscal acontecerão na prática.
Observa-se que Lei de Parcelamento do Solo Urbano, Estatuto da Cidade, Plano Diretor etc., inexistia à época. Porem Raimundo teve um zelo com as áreas Públicas pertencentes ao Patrimônio Municipal [do povo], do recém-criado município, pois ao invés de surrupia-las em beneficio próprio, de familiares ou de seus partidários, comprou terras e as incorporou ao Patrimônio Municipal, graças a isto, hoje Santa Cruz do Capibaribe tem uma expansão territorial de grande proporção, atitude esta incompatível com a pratica da maioria dos seus sucessores. Diante disto e muito mais, o que tivemos? Um visionário, vidente, mito, um Homem exageradamente honesto, adjetivos a ele aplicado por alguns, nada disto, apenas um homem honesto, ético e de espírito público relevante, que tornava real os seus sonhos e pensamentos, em prol do município, do qual foi o percussor de sua independência e administrador público.
Este é o Raimundo Histórico que conheci na minha vida de criança, adolescente e jovem ativista político do movimento popular, quando o mesmo morava ao lodo da casa de outro grande homem, o saudoso Padre José Pereira de Assunção (Pe. Zuzinha), que ao se tornarem adversários politicos, continuaram cultivando o respeito fraternal em suas relações
pessoais, algo raro no mundo da hipocrisia política, sobretudo na sociedade atual, autodenominada de moderna.
Este é o Raymundo que os do seu tempo, vivos ou In memória me passaram, este é o Raimundo descrito no livro de Lindolfo Pereira de Lisboa, o qual os políticos locais deveriam “trazê-lo” para o contexto politico atual, unindo conceitos e práticas, inovadoras, planejadas, avaliadas, recicladas, pois de Raimundo Prefeito para cá, conceitos e teorias cientificas avançaram, mais a prática nem tanto quanto deveria, nem tanto quanto podemos chegar.
Planejar e praticar hoje políticas públicas com um olhar critico construtivo no passado, presente e futuro, por uma Santa Cruz economicamente, socialmente, culturalmente e ecologicamente justa, democrática e sustentável é algo indispensável, sob pena de perdermos a nossa referência de “Capital das Confecções”. Algo que a História e seu Criador não nos absolverão.
Viva os que pensam e que praticam os relevantes interesses públicos! Viva o centenário de Raymundo Aragão!
Abraços Fraternais.
CarlosLisboa
Santa Cruz do Capibaribe, 27 de setembro de 2011.